sábado, 3 de julho de 2010

Tudo Acontece Numa Viagem de ônibus IV



Da Série Tudo Acontece Numa Viagem de Ônibus.


Um belo dia tive que ir a Praia Vermelha receber meu vale-coxinha, ou melhor, pagamento. Recebia em cheque e ainda tinha que ir até lá buscá-lo. Para completar, o bendito só saia no dia que vencia todas as minhas contas, com isso eu tinha que, além de buscar, ir correndo na agência que fica na Praia de Botafogo, compensar (lembrando que o bendito banco leva 2 dias para compensar um cheque depositado) e aproveitar para pagar as contas.

Sai do trabalho por volta das 15h, pois foi o horário que ligaram informando que poderia ir buscar o dindin. Fui correndo, afinal de contas ainda tinha que pegar um ônibus para ir receber, outro para chegar ao banco e ainda voltar ao trabalho! Beleza, sai sem bolsa, só com dinheiro de passagem e celular para facilitar a entrada no banco!

Peguei o cheque ligeiro! Voei para o banco e cheguei por volta de 16h03. Que legal. Portas fechadas! Bacana isso! Implorei ao guardinha para me deixar subir, mas ele não cedeu! Liguei para um amigo que é gerente da mesma rede de bancos que eu era cliente, mas ele não conhecia o gerente da agência Botafogo. Ok.

Respirei fundo! Sexta-feira né, todo mundo a mil! Para todas as contas, serão só dois dias de atraso, não é o fim do mundo! Mas era irritante, ter todo aquele dindin e não poder usar! Ok. Guardei o cheque e fui para o ponto de ônibus, ultra irritada. Esperando meu bus, enfiei a mão no bolso para separar logo o dinheiro da passagem e...ops! CADÊ O DINHEIRO? Comecei a fuçar todos os bolsos! E nada! Só cheque, umas moedas e o celular! Como assim? E agora?!

Sentei no banco do ponto e comecei a pensar nas hipóteses, ainda era cedo, por volta das 16h20 então eu poderia: pedir carona, pedir carona, pedir dindin no ponto de ônibus? Ah meu Deus, e agora? Meu olhos começaram a marejar, a garganta foi apertando, o ar...cadê o ar?!

Gente, é uma agonia sem tamanho! Pensei na distância entre Botafogo e o Centro da Cidade e qual seria a possibilidade de ir andando! Mas, quando olhei para os meus pés e para o salto que escolhi naquela sexta-feira, desisti da ideia. E eu comecei a chorar! Chorar e chorar, sem parar! Mas chorava muito!

Contei as moedas e tinha apenas R$ 0,45. A passagem era R$ 2,00 (confesso que não lembro o preço, mas acho que era esse). Fiquei ali sentada tentando imaginar aonde foi parar o dinheiro que coloquei no bolso! Não sei, mas devo ter perdido nesse tira e bota cheque e celular no bolso! E tudo isso sem parar de chorar! Cada vez que eu lembrava de como estava distante, sozinha e dura, começa a chorar de novo! Eu chorei tanto que meu rosto inchou, ficou vermelho e a cabeça começou a doer de tanto fungar o nariz!

Num breve momento que parei de chorar, percebi a presença de um despachante de ônibus, então tive uma ideia, vou pedir para ele me colocar num ônibus! Mas poxa, como pedir para me deixar entrar de graça, estou toda arrumada, no salto e dura? E fiquei ali em pé e chorando perto do despachante!

Neste momento, uma menina que deveria ter uns 11 anos de idade veio me oferecer bananada! Eu olhei pra ela e mandei: ah poxa, se eu tivesse dinheiro para bananada...não tenho nem para ir embora! Estou aqui dura e precisando ir para casa! Ela ficou me olhando sem entender e chamou outra menina que também vendia doces! Juro que pensei "é agora que vou perder meus R$ 0,45". Mas ela apenas comentou "a tia está chorando", e ficou me olhando espantada e de longe! Juro também que pensei em me aliar a ela, vender doce no sinal até juntas os R$ 2,00 e ir para casa, mas não daria certo! Desisti da ideia e comecei a chorar de novo!

O tempo passou, deu 18h e eu ainda estava no mesmo lugar e chorando. O pior de tudo é que em quase duas horas que estive ali me acabando em lágrimas não teve Um cidadão para me socorrer! Ninguém para procurar saber se eu precisava de alguma coisa ou quem sabe era uma louca fugitiva, sei lá! Nada. Ninguém. Só as crianças que vendiam doce!

Foi então, que com voz embargada me cheguei ao despachante e mandei: O senhor poderia me ajudar a pegar um ônibus? É que perdi meu dinheiro e só tenho R$ 0,45 agora (mostrando as moedas para ele). Ele me olhou de cima a baixo, meteu a mão no bolso e catou um montão de moedas e me deu a continha para a passagem! Agradeci e me enfiei no primeiro ônibus que passou!

Quando enfim, o pesadelo parecia ter acabo, resolvi ligar para alguém! Liguei para Andressa contando o ocorrido, meio sem voz e com a cara inchada, tentei explicar o desastre da tarde! Isso já passava das 18h30. Foi então que ela me lembrou: Bruna, por que você não me ligou? Ou então ligasse para Fernanda que trabalha na FIOCRUZ (muito perto de onde eu estava).

Entenderam? Eu fiquei ali sofrendo por duas horas por pura falta de cabeça, memória, calma e foco! Droga, tinha duas pessoas para me socorrer e não pedi ajuda a nenhuma delas! Como o desespero cega a gente não é? Poderia ter ido andando até o trabalho da Fernanda que ficava a uns 500m, no máximo, de onde eu estava. Mas fiquei tão transtornada que não lembrei de nada!


(Continua)


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Tudo Acontece Numa Viagem de Ônibus I
Tudo Acontece Numa Viagem de Ônibus II
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