domingo, 24 de outubro de 2010

Aconteceu no Caioaba - I

Morar num bairro pobre, mal estruturado e com gente que veio de tudo que é canto é muito complicado. Mas, quando se tem 8 anos, as coisas são bem mais simples. Era mais uma mudança que minha família realizava, não era nenhuma novidade pra mim, estava só na expectativa e ansiosa por conhecer a casa nova, os vizinhos novos, as crianças da minha nova rua, o colégio, seria tudo novo de novo!

E, apesar de não parecer, era um grande passo na vida, da favela para a Baixada! Da casa de parentes para a casa "própria". Sim, evoluímos. E chegamos numa casa bastante mal tratada, meio que aos pedaços, mas espaçosa! Teríamos muito trabalho até deixá-la apropriada, mas estávamos satisfeitos.

Mudamos no período das férias escolares o que foi bom, deu tempo de conhecer a pirralhada toda da vizinhança, e não eram poucas crianças naquele lugar. As poucas semanas foram suficientes para reconhecer o novo caminho até o colégio que por sinal era uma porcaria, a tal de E.E. São Jorge! Tenebrosa! Lembro-me de uma menina da minha turma, antiga segunda séria primária, que deveria ter (ao meu ver) cerca de 1,70 de altura, gorda toda vida, parecia uma adulta! E eu, coitada, franzina e baixinha tinha um medo horrendo dela! Na tal escola nada era bom, só a hora do recreio, tirando a merenda que era sempre leite, leite, leite e na caneca de plástico engordurada! Que nojo! Nunca tomava, mas pegava pra gordinha que enchia a garrafinha d'água com o leite reteté e levava pra casa. É, a vida não era tão fácil!

Com poucas semanas após a mudança, passamos por um susto tremendo. Faltou luz no bairro e ficamos três longos dias sem energia! Foi aí que aprendi a fazer lanterna de lata de leite com vela! E a minha estava sempre à mão, já que a falta de luz era constante. Mais alguns meses à frente, descobrimos para que servia o rio no final da rua, além de ser depósito de lixo, já que o bairro não tinha coleta regular. Servia para transbordar é óbvio! Lixo + chuva = a enchente! Deciframos esta equação da maneira mais dolorosa e triste, ou seja, na prática!

É claro que sobre isso ninguém comentou, nem na época da procura pela casa e nem depois que mudamos! E com muita coisa ainda embalada, enfrentamos o primeiro corre-corre, suspende as coisas e corre para o Brizolão, campo dos refugiados da chuva! Eu não lembro de muita coisa deste dia. Só de ir no ombro do meu pai, pois a água na rua batia na cintura dele. E de chegar no pátio da escola e encontrar quase que uma festa, gente que não acabava mais, o Credinho (dono de um grande boteco) distribuindo biscoito milhopan pra mulecada, e um zunzunzum sem fim! Não ficamos muito tempo naquela muvuca, em algumas horas voltamos pra casa, a água já tinha baixado e restava muito trabalho para fazer!!!! Limpar tudo e se acalmar do susto!

Morar no Caioaba não era só tristeza. Essas pequenas calamidades afetavam meus pais que se preocupavam com nosso bem estar. Crianças não ligam para nada disso. Ou melhor, eu não ligava, não tinha consciência de risco, necessidade ou falta de algo melhor. Morar na baixada foram quatro anos de diversão e alienação da realidade da minha vida e dos que me cercavam.

Muitas coisas aconteceram no Caioaba, e o resto da história eu conto depois.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sonhar pra quê?

Num domingo desses, caminhando rumo a um lugar qualquer ouvi um papo que me intrigou. Um menina com cerca de 9 anos, divagava com a mãe sobre seus sonhos e projetos, falando sobre o que gostaria de ser e tudo o que desejava da vida. E no meio desse papo ela perguntou, inocentemente:

- Mãe, com o que você sonhava quando era crianças?

A mãe, num tom muito áspero e rancoroso, respondeu:

- Sonhar? Eu nunca tive tempo para sonhar! Nunca tive sonhos! Isso é coisa pra quem tem tempo sobrando.

Nossa, a resposta doeu em mim, não pela menina ouvir isso, e sim por ouvir uma confissão tão dolorosa! Todo mundo tem sonhos. Não consigo imaginar que em alguns ano não tenha parado um só instante para desejar e sonhar com algo. Não quero e nem posso julgá-la, mas deve ter passado uma vida muito cruel.

É nessas horas que penso como minha vida é boa, pelo menos ainda alimento meus sonhos e alguns chego até a realizar. E quantas pessoas já perderam completamente a capacidade de sonhar? Quantas já perderam a esperança de dias melhores, de justiça e vitória sobre seus dias tão pesados?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Te Amo"

Enquanto penso em você, enquanto escrevo para você, te ouço aqui. E sabe, estive pensando que eu te amo tanto, com todo calor que posso te dar, com todo egoísmo que possuo em te querer só pra mim, com tudo que pode haver de bom e até com meu lado condenável. Fazer o que, não é? Eu simplesmente te amo. E é com toda minha memória e experiência, mesmo que inútil para você. E neste amor, ainda te ofereço meus suspiros e sonhos, afinal já são seus. Consigo te amar até na raiva que sinto da sua facilidade em me decifrar. Te amo pela sua existência, pelo seu brilho na minha escuridão. E por hoje é só isso, apenas te amo.

Bruna Turques