segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ensaios de Amor - Alain de Botton, novamente

Mais uma vez vou postar alguns trechos do livro de Alain. Estou num ponto do livro em que o protagonista, apesara de homem, passa por uma situação crítica, quando ouve de sua amada: Você é demais para mim. Quem nunca passou por esse psicofatalismo, como o próprio autor chama, que derrame a primeira lágrima de depressão.


"Todo homem chama o que lhe agrada e lhe dá prazer de bom; e de mau o que lhe desagrada: enquanto cada homem difere de outro em constituição, eles também diferem uns dos outros da distinção comum de bem e mal. Não existe uma coisa simplesmente boa..." (Hobbes)
"Primeiro de tudo, chamamos as ações individuais de boas ou más sem pensarmos em seus motivos, mas unicamente por conta de suas consequências úteis ou danosas. Logo, no entanto, nos esquecemos da origem dessas designações e acreditamos que a qualidade boa e a má são inerentes às ações propriamente ditas, independentes de suas consequências..." (Nietzsche)

(...) Eu aprendi que os humanos se colocam numa relação de liberdade negativa com relação uns aos outros, mas certamente não são forçados a amar uns aos outros se não o desejarem. Uma crença primitiva e não-trágica me fazia sentir que minha raiva me capacitava a culpar outra pessoa, mas reconheci que a culpa só poderia ser ligada ao acaso. Ninguém se zanga com um burro porque ele não sabe cantar, pois a constituição de um burro nunca lhe deu a chance de fazer algo que não fosse zurrar. Da mesma forma, não se pode culpar um amante por amar ou não amar, pois é uma questão além da sua escolha e, portanto, alem de suas responsabilidade - embora o que torne a rejeição no amor mais difícil de suportar do que burros que não sabem cantar é que um dia o amante foi visto amando. É mais fácil não culpar o burro por não cantar porque ele nunca cantou, mas o amante amou, talvez há bem pouco tempo atrás, o que torna a realidade da afirmação Eu não te amo mais ainda mais difícil de digerir.

A arrogância de querer ser amado só havia surgido agora que não era retribuída - fui deixado sozinho com meu desejo indefeso, sem direitos, além da lei, chocantemente rude em minhas exigências: Me ame! E por que motivos? Eu só tinha a desculpa esfarrapada de sempre: Porque eu te amo...

* Ensaios de Amor - Alain de Botton - Página 189/190

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