segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pedra Bruta



Era tarde de outono, um sol forte para a estação queimava-lhe a pela e ardia os olhos, naquele caminho que seguia. Ruas semi-vazias no horário um tanto quanto cedo para caminhadas avulsas, meio da tarde, horário em que normalmente as pessoas estão ocupadas, porém Lilian caminhava aérea e sem destino.

Como de costume, andava arrastada, ora chutando pedras, ora tropeçando no nada. Até que um brilho naquele chão empueirado lhe chamou atenção.

De imediato, Lilian pegou a pedra com cara de cristal ou coisa assim e guardou na bolsa, ao mesmo tempo que olhava ao seu redor para se certificar de que ninguém a viu pegando. Sabe-se lá a quem pertence? - Pensava ela.

Num instante mudou de caminho e pôs-se de volta para casa, ou para o que ela chamava de.

Entrou apressada e logo pegou seu achado para examinar. Levou bem perto do olho direito, como se soubesse bem o que estava fazendo, e chegou a conclusão que não entendia nada de pedra preciosa, então não poderia dizer do que se tratava.

Lembrou-se dos poucos filmes que viu e como faziam para testar a veracidade de uma pedra ou ouro, e ficou a se perguntar se isso caberia a pedra que encontrou. Sem escolha, deu uma bela mordida na pedra transparente e nada aconteceu! Yes! - Exclamou! Chegando a conclusão de que era diamante!

Não queria acreditar na sorte que teve e acreditou fielmente que estava rica, pois a pedra era grande e pelos seus cálculos, de quem pouco sabe, valeria uma fortuna! A partir daí seus pensamentos foram longe, em planos, metas, estratégias de como se passar por uma pessoa comum e não tão rica, como guardar segredo, quais seriam os seus investimentos, imóveis? - pensou alto.

Passou a carregar seu filhote, assim o chamava, para cima e para baixo dentro daquela bolsa fuleira.

A ansiedade era enorme e Lilian não estava mais aguentando esperar. Tomou a decisão: - Amanhã mesmo irei procurar um ourives ou coisa assim!

Chegou o momento de vender seu tesouro! Colocou sua melhor roupa, fez um produção impecável, digna de tapete vermelho e seguiu rumo ao comprador de pedras preciosas.

Entrou lojinha a dentro com voz de autoridade, pedindo sigilo e exigindo que todo atendimento fosse realizado de forma discreta, pois trazia consigo algo extremamente valioso. O dono do cubículo, apressadamente fechou as portas e fez as honras a pequena Lilian.

Ela, por sua vez, começou a tirar a da bolsa ridícula o embrulho mais horroroso ainda, que trazia o seu futuro. E com muito cuidado começou a desfazer o pacote, até chegar à pedra.

Entregou ao comprador, cheia de reservas e desconfianças, mas começou a murchar assim que viu sua cara. Este, com seu olhar experiente, foi adiantando que não pagaria muito por aquilo. Mas Lilian estava muito segura e deu de ombros. Já o comprador pegou sua lupa de 10x e começou a olhar a pedra por todos os ângulos.

Em poucos minutos, e em meio a gritos raivosos ele soltou: É vidro! Só vidro! Uma pedra de vidro!

Não dava para acreditar, como vidro? Brilhava! Era muito duro! Não era vidro! Balbuciava Lilian em meio a lágrimas espremidas no seu olhar.

O ourives, já nada simpático, não se deu ao trabalho de explicar. Jogou a pedra sobre a mesa e pediu que ela se retirasse e só voltasse quando tivesse algo realmente valioso para vender.

Custou para cair a ficha sobre tudo o que tinha acontecido. Aquele diamante não passava de mero caco de vidro, lixo! Lilian o carregou na bolsa por muito tempo, não mostrou a quase ninguém por medo que o roubassem. Foi muito frustrante descobri que não passava de lixo!

Voltou para casa cabisbaixa com a pedra nas mãos, pensando como poderia ter se enganado assim, afinal de contas ela até testou, mesmo não sendo experiente. Foi quando começou a lembrar que na verdade não havia mordido tão forte assim, quando fez o teste. Lembrou também que tentou arranhar, porém com um palito.

Então chegou a mais uma conclusão, porém esta era certeira, de que o reles engano foi criado por ela mesmo, quando não quis colocar a prova a verdadeira identidade do seu suposto diamante. Mas, ela preferiu criar muitas expectativas sobre um pedaço de vidro.

Descobriu que não adianta brilhar, muito menos ser pesado. Precisa sim, ser forte e que a beleza só aparece depois de lapidado, ao contrário do vidro, que quando novo é reluzente, mas com o tempo precisa ser trocado.

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Bruna Turques

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